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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Ioga e meditação melhoram o desempenho do cérebro

Segundo estudo, uma rotina semanal de ioga e meditação pode fortalecer as habilidades do pensamento - iStock
Segundo estudo, uma rotina semanal de ioga e meditação pode fortalecer as habilidades do pensamento Imagem: iStock

Gretchen Reynolds

Do New York Times

11/06/2016 07h07

Uma rotina semanal de ioga e meditação pode fortalecer as habilidades do pensamento e ajudar a evitar o declínio mental relacionado com o envelhecimento, de acordo com um novo estudo feito com idosos com sinais precoces de problemas de memória.

A maioria das pessoas depois dos 40 anos sabe que nossa mente e, principalmente, nossa memória começam a falhar com o passar do tempo. Nomes e palavras familiares não surgem mais com rapidez e as chaves do carro adquirem o poder de se teletransportar para os bolsos dos casacos onde jamais poderíamos tê-las deixado.
Algum enfraquecimento das funções mentais parece ser inevitável à medida que envelhecemos. Mas a ciência mais moderna sugere que podemos retardar e atenuar o declínio dependendo da maneira como vivemos e, principalmente, se e como movemos nossos corpos. Estudos anteriores descobriram que as pessoas que correm, treinam com peso, dançam, praticam tai chi ou fazem jardinagem regularmente possuem um risco menor de desenvolver demência do que as que não são fisicamente ativas.
Também existe evidência cada vez maior de que combinar atividade física com meditação pode intensificar os benefícios de ambas as atividades. Em um estudo interessante que escrevi sobre o assunto recentemente, por exemplo, as pessoas com depressão que meditaram antes de correr mostraram maior melhora em seu estado de espírito do que as pessoas que fizeram uma dessas atividades sozinha.
Mas muitas pessoas não possuem capacidade física ou vontade de correr ou fazer outras atividades vigorosas.
Mulher meditando - ilustração - iStock - iStock
Combinar atividades físicas com meditação ajuda a intensificar os benefícios de ambas as práticas
Imagem: iStock
Assim, para o novo estudo, publicado em abril no Jounal of Alzheimer´s Disease, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e de outras instituições decidiram testar se a ioga, uma atividade relativamente leve e meditativa, poderia alterar o cérebro das pessoas e fortalecer sua habilidade para pensar.
Eles começaram recrutando 29 adultos de meia-idade e mais velhos da região de Los Angeles que contaram aos pesquisadores que estavam nervosos a respeito do estado de suas memórias e que, durante as avaliações na universidade, demonstraram sofrer um comprometimento cognitivo leve, uma condição mental que pode ser a precursora de uma eventual demência.
Os voluntários também passaram por um tipo sofisticado de escaneamento do cérebro que rastreia como diferentes partes desse órgão se comunicam entre si.
Então, os voluntários foram divididos em dois grupos. Um começou um programa bem estabelecido de treinamento do cérebro que envolvia uma hora por semana de aula e uma série de exercícios mentais programados para reforçar a memória que os voluntários deveriam praticar em casa por cerca de 15 minutos por dia.
Os outros começaram a fazer ioga. Uma vez por semana, iam até o campus da UCLA para fazer uma hora de ioga Kundalini, que envolve exercícios de respiração e meditação assim como movimentos e posturas. Os pesquisadores escolheram esse tipo porque as pessoas que estão fora de forma e não costumam fazer esses exercícios normalmente acham fácil participar das aulas.
O grupo da ioga também aprendeu um tipo de meditação conhecido como Kirtan Kriya, que envolve repetir uma série de sons --ou mantras-- enquanto simultaneamente fazem movimentos repetitivos com as mãos. Os pesquisadores pediram que eles meditassem dessa maneira por 15 minutos todos os dias, de modo que os dois grupos se comprometeram por períodos equivalentes.
Os voluntários praticaram seus programas por 12 semanas.
Então, voltaram ao laboratório da universidade para outra rodada de testes cognitivos e varredura do cérebro.
Nessa ocasião, todos os homens e mulheres tiveram um desempenho significativamente melhor na maioria de testes de pensamento.
Mas apenas aqueles que praticaram ioga e meditação mostraram melhoras no humor
--obtiveram pontuações menores em uma avaliação de potencial de depressão do que aqueles no grupo que treinou o cérebro-- e se saíram muito melhor em um teste de memória visual-espacial, um tipo de lembrança importante para o equilíbrio, percepção de profundidade e habilidade para reconhecer objetos e se orientar pelo mundo.
O escaneamento do cérebro dos dois grupos depois das atividades mostrou mais comunicação entre as partes envolvidas em habilidades de memória e de linguagem. Aqueles que praticaram ioga, no entanto, também desenvolveram mais comunicação entre as regiões do cérebro que controlam a atenção, sugerindo maior habilidade para focar e para realizar várias tarefas ao mesmo tempo.
Na verdade, a ioga e a meditação igualaram e depois superaram os benefícios de 12 semanas de treinamento do cérebro.
"Ficamos um pouco surpresos com a magnitude" dos efeitos no cérebro, afirma a doutora Helen Lavresky, professora de Psiquiatria da UCLA que supervisionou o estudo.
De que modo a ioga e a meditação mudaram fisiologicamente e de maneira única o cérebro dos voluntários é impossível de se saber a partir desse estudo, mas as reduções nos hormônios do estresse e na ansiedade podem ter um papel importante, diz ela. “Essas pessoas estavam preocupadas com o estado de suas mentes”, afirma.
O movimento, segundo Helen, também aumenta o nível de várias substâncias bioquímicas, nos músculos e no cérebro, que estão associadas com a melhora da saúde desse órgão.
Ainda é um mistério se outros tipos de ioga e meditação, ou se uma dessas atividades sozinha, podem melhorar o cérebro da mesma maneira, diz ela. Mas é possível que haja algo especialmente potente na combinação de ioga com o tipo de meditação praticado nesse estudo, durante o qual as pessoas não ficam completamente paradas.
Se você quiser tentar, a Fundação de Pesquisa e Prevenção de Alzheimer, que financiou parte do estudo, fornece informação sobre como começar a meditar dessa maneira.